Okay Brasil! Graças a Jah o período eleitoral está acabando e, consequentemente, poderemos voltar às nossas vidinhas de gado, felizes e marcadas por nossa míopia social que, ironicamente, retornará na próxima Copa do Mundo de futebol (que, mais ironicamente ainda, será no nosso amado Brasil). Contudo, neste ano, como estudante de jornalismo, o principal ponto de debate entre eu e as pessoas foi o posicionamento e comportamento da grande mídia tradicional nestas eleições.
Antes de mais nada, quero deixar claro que sou adepto da expressão cunhada por Paulo Henrique Amorim para adjetivar a chamada "grande imprensa" brasileira: Partido da Imprensa Golpista (PIG). Ao longo desses meses de campanha eleitoral, foi ela quem moveu os debates entre amigos, muito mais que "Dilma e o aborto", "Serra Paz e Amor" e "Marina e os pseudo-ecochatos"; e é a partir dela que gostaria de levantar os questionamentos pós-segundo turno.
Interessantemente, num país em que a consciência e construção de uma "identidade nacional" é uma idéia relativamente recente, um dos pontos de pauta de qualquer conversa de fila de supermercado foi a "liberdade de expressão". Instituição principal da democracia, acredito que ainda há um longo caminho para que nós, brasileiros comuns, saibamos o real significado dessa máxima e suas consequencias.
Assombrados por um período ultrapassado, mas deliberadamente alardeado como um fantasma (a Ditadura e sua censura), nós estamos aprendendo a lidar com essa instituição da maneira mais louca: no palco sem fronteiras - quase dadaísta - da Internet. Foram centenas de correntes/emails em que o cidadão do Brasil acabou demonstrando sua face mais preconceituosa e cruel, encaminhando, para milhares de caixas de entrada pelo país, desde rumores absurdos a pontos de vista explicitamente facistas.
Será esse o verdadeiro pensamento brasileiro? Uma maneira de responder tal pergunta seria lançando o olhar para a imprensa, porta-voz principal da democrática liberdade de expressão. E aí, ao meu ver, a coisa se complica porque ela também, em casos não-raros, se mostra como difusora de fantasmas absurdos, massificadora de discursos superficiais e contradições de revirar o estômago. Exemplos: o caso "Maria Rita Kehl X Estadão" e agora o "Serra e a bolinha de papel".
Abaixo há a transcrição ipsis litteris de um email que recebi esta semana sobre a dita agressão sofrida pelo candidato tucano e o tratamento dado pelo maior informador do país: o telejornal da TV Globo, Jornal Nacional.
Tal comportamento da mídia brasileira não é novidade nenhuma; não é de hoje que ela divulga factóides na explícita intenção de causar alvoroço e dúvida na cabeça do "admirável gado novo" - qualquer pessoa com o mínimo de leitura histórica conhece o caso da filha do Lula que apareceu nos 45 minutos do segundo tempo das eleições de 1990.
Porém, naquela época pós-ditadura e durante muito tempo depois, a imprensa era sim a voz principal do pensamento brasileiro e, portanto, é simples para nós chamá-la de manipuladora. Mas e agora, quando temos a internet como veículo primordial da liberdade de expressão, o que dizer do Brasil way of life? O que dizer das idéias preconceituosas e facistas que nossos amigos, parentes e conhecidos demonstram quando nos encaminham certos emails?
Estaria o brasileiro naquela fase adolescente em que "liberdade" se confunde com "libertinagem"? E está a grande imprensa se aproveitando para exercer plenamente seu direito à "libertinagem de expressão"?
*Lee Oswald, assassino do presidente norte-americano John Kennedy
Antes de mais nada, quero deixar claro que sou adepto da expressão cunhada por Paulo Henrique Amorim para adjetivar a chamada "grande imprensa" brasileira: Partido da Imprensa Golpista (PIG). Ao longo desses meses de campanha eleitoral, foi ela quem moveu os debates entre amigos, muito mais que "Dilma e o aborto", "Serra Paz e Amor" e "Marina e os pseudo-ecochatos"; e é a partir dela que gostaria de levantar os questionamentos pós-segundo turno.
Interessantemente, num país em que a consciência e construção de uma "identidade nacional" é uma idéia relativamente recente, um dos pontos de pauta de qualquer conversa de fila de supermercado foi a "liberdade de expressão". Instituição principal da democracia, acredito que ainda há um longo caminho para que nós, brasileiros comuns, saibamos o real significado dessa máxima e suas consequencias.
Assombrados por um período ultrapassado, mas deliberadamente alardeado como um fantasma (a Ditadura e sua censura), nós estamos aprendendo a lidar com essa instituição da maneira mais louca: no palco sem fronteiras - quase dadaísta - da Internet. Foram centenas de correntes/emails em que o cidadão do Brasil acabou demonstrando sua face mais preconceituosa e cruel, encaminhando, para milhares de caixas de entrada pelo país, desde rumores absurdos a pontos de vista explicitamente facistas.
Será esse o verdadeiro pensamento brasileiro? Uma maneira de responder tal pergunta seria lançando o olhar para a imprensa, porta-voz principal da democrática liberdade de expressão. E aí, ao meu ver, a coisa se complica porque ela também, em casos não-raros, se mostra como difusora de fantasmas absurdos, massificadora de discursos superficiais e contradições de revirar o estômago. Exemplos: o caso "Maria Rita Kehl X Estadão" e agora o "Serra e a bolinha de papel".
Abaixo há a transcrição ipsis litteris de um email que recebi esta semana sobre a dita agressão sofrida pelo candidato tucano e o tratamento dado pelo maior informador do país: o telejornal da TV Globo, Jornal Nacional.
Saiu no Escrivinhador, de Rodrigo Vianna:
O dia em que até a Globo vaiou Ali Kamel
Passava das 9 da noite dessa quinta-feira e, como acontece quando o
“Jornal Nacional” traz matérias importantes sobre temas políticos, a
redação da Globo em São Paulo parou para acompanhar nos monitores a
“reportagem” sobre o episódio das “bolinhas” na cabeça de Serra.
A imensa maioria dos jornalistas da Globo-SP (como costuma acontecer
em episódios assim) não tinha a menor idéia sobre o teor da
reportagem, que tinha sido editada no Rio, com um único objetivo:
mostrar que Serra fora, sim, agredido de forma violenta por um grupo
de “petistas furiosos” no bairro carioca de Campo Grande.
Na quarta-feira, Globo e Serra tinham sido lançados ao ridículo,
porque falaram numa agressão séria – enquanto Record e SBT mostraram
que o tucano fora atingido por uma singela bolinha de papel. Aqui, no
blog do Azenha, você compara as reportagens das três emissora na
quarta-feira. No twitter, Serra virou “Rojas”. Além de Record e SBT,
Globo e Serra tiveram o incômodo de ver o presidente Lula dizer que
Serra agira feito o Rojas (goleiro chileno que simulou ferimento
durante um jogo no Maracanã).
Ali Kamel não podia levar esse desaforo pra casa. Por isso, na
quinta-feira, preparou um “VT especial” – um exemplar típico do
jornalismo kameliano. Sete minutos no ar, para “provar” que a bolinha
de papel era só parte da história. Teria havido outra “agressão”.
Faltou só localizar o Lee Osvald* de Campo Grande. O “JN” contorceu-se,
estrebuchou para provar a tese de Kamel e Serra. Os editores fizeram
todo o possível para cumprir a demanda kameliana. mas o telespectador
seguiu sem ver claramente o “outro objeto” que teria atingido o
tucano. Serra pode até ter sido atingido 2, 3, 4, 50 vezes. Só que a
imagem da Globo de Kamel não permite tirar essa conclusão.
Aliás, vários internautas (como Marcelo Zelic, em ótimo vídeo postado
aqui no Escrevinhador) mostraram que a sequência de imagens – quadro a
quadro – não evidencia a trajetória do “objeto” rumo à careca lustrosa
de Serra.
Mas Ali Kamel precisava comprovar sua tese. E foi buscar um velho
conhecido (dele), o perito Ricardo Molina.
Quando o perito apresentou sua “tese” no ar, a imensa redação da Globo
de São Paulo – que acompanhava a “reportagem” em silêncio –
desmanchou-se num enorme uhhhhhhhhhhh! Mistura de vaia e suspiro
coletivo de incredulidade.
Boas fontes – que mantenho na Globo – contam-me que o constrangimento
foi tão grande que um dos chefes de redação da sucursal paulista
preferiu fechar a persiana do “aquário” (aquelas salas envidraçadas
típicas de grandes corporações) de onde acompanhou a reação dos
jornalistas. O chefe preferiu não ver.
A vaia dos jornalistas, contam-me, não vinha só de eleitores da Dilma.
Há muita gente que vota em Serra na Globo, mas que sentiu vergonha
diante do contorcionismo do “JN”, a serviço de Serra e de Kamel.
Terminado o telejornal, os editores do “JN” em São Paulo recolheram
suas coisas, e abandonaram a redação em silêncio – cabisbaixos alguns
deles.
Sexta pela manhã, a operação kameliana ainda causava estragos na Globo
de São Paulo. Uma jornalista com muitos anos na casa dizia aos
colegas: “sinto vergonha de ser jornalista, sinto vergonha de
trabalhar aqui”.
Serra e Kamel não sentiram vergonha.
Tal comportamento da mídia brasileira não é novidade nenhuma; não é de hoje que ela divulga factóides na explícita intenção de causar alvoroço e dúvida na cabeça do "admirável gado novo" - qualquer pessoa com o mínimo de leitura histórica conhece o caso da filha do Lula que apareceu nos 45 minutos do segundo tempo das eleições de 1990.
Porém, naquela época pós-ditadura e durante muito tempo depois, a imprensa era sim a voz principal do pensamento brasileiro e, portanto, é simples para nós chamá-la de manipuladora. Mas e agora, quando temos a internet como veículo primordial da liberdade de expressão, o que dizer do Brasil way of life? O que dizer das idéias preconceituosas e facistas que nossos amigos, parentes e conhecidos demonstram quando nos encaminham certos emails?
Estaria o brasileiro naquela fase adolescente em que "liberdade" se confunde com "libertinagem"? E está a grande imprensa se aproveitando para exercer plenamente seu direito à "libertinagem de expressão"?
*Lee Oswald, assassino do presidente norte-americano John Kennedy